#19 Apresentações de livros
Quando publiquei o meu primeiro livro contactei diversas bibliotecas municipais próximas da minha localidade para fazer apresentações. Algumas responderam-me prontamente, às quais continuo a ir. De outras, passado tantos anos ainda aguardo a resposta.
Não fiz nada para ultrapassar essa dificuldade. Nem sequer já marco apresentações, só aceito convites (tenho dificuldade em não os aceitar), porque não vejo que as apresentações contribuam para a divulgação do meu trabalho.
Mas compreendi as diferentes dinâmicas dos diferentes sítios.
Por exemplo, num local pode estar a trabalhar alguém (famoso) com uma avença que só convida amigos (famosos e a ganhar um bom cachet). Noutro local são muito complicados e têm horários que não servem a ninguém. Noutro não há nenhuma dinâmica e a falta de organização faz com que mails e propostas se percam no vazio.
Muitas das vezes, mesmo quando o contacto corre bem, vais apresentar o livro e não tens público. Muitas vezes, em sítios pequenos, quando ocorre mais do que uma atividade cultural em simultâneo o público espalha-se. Porque o público das atividades culturais nunca é muito, seja onde for. E são sempre os mesmos. Se costumas ir com regularidade a algum sítio, começas até a conhecer as pessoas.
Nas diferentes feiras do livro já é um pouco diferente. Talvez por terem um programa próprio a dinâmica leva a que o público assista a mais do que um evento. Talvez por isso os escritores prefiram estar nas feiras do livros, mais do que em apresentações isolados. Talvez as feiras do livro, num contexto municipal, venham a mudar o paradigma.
Recomendações
Podemos também recordar quem já não está entre nós, mas deixou o seu legado.
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Para terminar deixo para vossa leitura uma micronarrativa que publiquei na “Revista Athena”, em 2021
Carinho comprado
A noite depois do calor, do suor. O cansaço persiste, apesar de lavado pelo duche. É um cansaço em que os braços pendem inúteis, quando antes vigorava a força do trabalho. Marrafa ao meio, after shave do supermercado, o fio de outro com o Cristo que a mãe lhe ofereceu, e que beija. Não sabe rezar, nem gosta de missas, mas faz promessas vãs que nunca cumpre. A noite é de descanso, o calor amainou, o trabalho terminou. Sentia a necessidade do momento de amor. Abriu a carteira. Tinha sido dia de receber.
Durante o dia gritou, lutou, mandou. Escolheu, decidiu, fez valer. Agora era a hora de ser mole. Como os seus braços cansados. Era hora de não escolher, não decidir, deixar-se ir. Sorriu, enquanto se derretia no carinho comprado. Ela beijava-o, acariciava-o, e a ele sabia-lhe a sonho e a tempo. O calor agora era outro, e ele deixou-se entregar.